Ortorexia: a obsessão por ser saudável que pode acabar mal
Está na moda “ser saudável” e para isso comer de forma natural, biológica, sem plásticos, sem deixar resíduos, a baixa temperatura ou mesmo crua, sem glúten, sem lacticínios, sem açucares refinados e “sem culpas” faz parte dos requisitos indispensáveis que devemos cumprir a rigor para alcançar essa realidade imaginária.
No entanto, todas as modas têm os seus perigos porque se tornam viciantes. Quando decidimos aderir a uma dieta da moda, temos a tendência em colocar demasiadas expetativas no objeto do nosso desejo ou naquela pessoa com a qual nos identificamos pela sua beleza, pureza ou excessiva magreza e que ocupa uma posição que queremos alcançar a qualquer custo para sermos finalmente reconhecidos/as. No entanto estes custos podem ser demasiado elevados com consequências irreversíveis, levando-nos por um caminho no qual extrapolamos os limites do bom-senso e nos esquecemos de respeitar as nossas necessidades individuais e as características únicas do nosso corpo físico e emocional. Foi o caso da jovem professora de Yoga, Kate Finn que em 2003 morreu com 34 anos. Numa exagerada e obsessiva preocupação com a qualidade dos alimentos e seus respectivos efeitos benéficos, a dieta que acabou por seguir, tornou-se tão restritiva quanto fatal.
Essa dieta radical e o caso desta jovem mulher caracteriza uma doença que tem vindo a ser objeto de estudo de vários investigadores e que se chama Ortorexia Nervosa (do grego Orthos: direito ou correto e Orexi: apetite); trata-se de uma doença que se define por uma tendência obsessiva e patológica pelo consumo de alimentos única e exclusivamente dentro daquilo que é considerado saudável, natural ou puro, sendo que tudo aquilo que não se encaixa nestes parâmetros exclusivos é erradicado da alimentação e está estritamente proibido. Esta obsessão diz respeito à qualidade e composição dos alimentos, mas também há forma como os mesmos são cozinhados e consumidos.
Esta transtorno alimentar tem algumas semelhanças com a anorexia nervosa pela preocupação exagerada que a pessoa confere à comida, pela tendência para o perfeccionismo e auto-controlo e pela culpabilidade sentida quando ocorre uma transgressão das regras alimentares que ditam a dieta e como consequência o isolamento. Em ambos os casos a comida ocupa um lugar preponderante e central na vida da pessoa, sendo que as restrições se podem manifestar tanto a nível da quantidade dos alimentos ingeridos, como na qualidade e escolha dos mesmos, levando à perda de peso exagerada e em muitos casos à desnutrição.
Se sentes que estás preso/a a esta realidade dissonante e disfuncional e não consegues visualizar-te num lugar onde te é permitido viver de forma emocionalmente equilibrada, a tua relação com a comida “saudável”, procura a ajuda de um Psicólogo.
Porque ser saudável, mais do que tudo, é aprendermos a alimentar a nossa mente, o nosso espirito e as nossas emoções de pensamentos positivos, que nos permitem distanciarmo-nos do julgamento, da culpa, do medo, da vergonha e daquilo que os outros pensam sobre nós. E para isso, tanto as técnicas de Mindfulness, Mindful Eating**como a terapia cognitivo-comportamental, têm contribuído eficazmente para ajudar as pessoas a estabeleceram um compromisso a longo prazo com a saúde emocional e física.
* Se és um entusiasta da alimentação saudável, convido-te a fazeres o teste de Bratman que se encontra neste link abaixo onde encontrarás todas as informações necessárias para complementares este artigo:
www.orthorexia.com
**Vem aprender técnicas de Mindful Eating num Workshop que se irá realizar no dia 9/12. (Para informações sobre o programa escreve para macroinandyoung@gmail.com).
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