Ténis: um “challenge” quase sempre mental
O ténis sempre foi uma das minhas grandes paixões desde miúda. Havia algo de especial e poderoso que me fascinava na forma complexa como a dinâmica do jogo se construía, assim como na imprevisibilidade e na flutuação do jogo que podia mudar de um minuto para o outro. Questionava-me sobre os aspetos que estavam relacionados com essa variabilidade e sobretudo, sobre o poder da mente dos atletas e o seu impacto nessas mudanças repentinas, que podiam transformar a experiência positiva de um jogador prestes a alcançar a vitória de um jogo, no seu extremo oposto.
Efetivamente, o ténis é um desporto que remete o espectador para uma batalha de personalidades e estilos, uma competição que exige não só força física, mas também força mental e emocional. A dinâmica criada no campo assemelha-se a uma narrativa, em que cada jogador conta a sua história por meio de suas ações, estratégias e reações. O vencedor desta narrativa, aquele que sai vitorioso, é o jogador que consegue afirmar a sua personalidade no jogo e assumi-la perante a do seu adversário.
Neste sentido, a modalidade do ténis é das mais exigentes ao nível da gestão física, mental e emocional. A gestão da energia física é uma das bases do sucesso no ténis. O jogo exige um nível exaustivo de preparação física, resistência e agilidade. Um jogador que consegue manter o seu desempenho físico máximo até ao final de cada jogada, ganha uma vantagem significativa perante o seu adversário. Isso requer não só apenas uma condição física de excelência, mas também um pensamento estratégico sobre quando exercer o máximo esforço.
A gestão do desempenho técnico traduz-se pela capacidade do jogador executar sob pressão as suas habilidades de forma consistente. Não se trata apenas de ter o conhecimento, trata-se de aplicar esse conhecimento de forma eficaz no momento certo. Isso requer foco, precisão e disciplina mental para confiar nas suas capacidades técnicas.
No entanto, o aspecto mais crítico no ténis é a gestão da energia mental. O jogo mental é uma batalha dentro de uma batalha. Trata-se de foco, resiliência, adaptabilidade e da manutenção de uma mentalidade forte. O ténis é por isso um desafio tão psicológico, como físico. O jogador que consegue manter a sua postura sob pressão, que consegue lidar com os contratempos sem perder a confiança e que consegue adaptar as suas estratégias para explorar as fraquezas do jogo do adversário, ganha assim uma vantagem significativa na evolução da dinâmica do jogo.
Nesta linha de pensamento, o meu trabalho como psicóloga do desporto foca-se em estabelecer um Plano de Treino mental e Psicológico com o jogador de ténis que enfatize a sua confiança, a sua concentração e o seu controlo emocional, tomando em consideração que são as principais chaves para vencer o jogo mental no tênis. Para tal efeito, o jogador deve acreditar nas suas competências, bloquear as distrações e manter-se emocionalmente equilibrado, mesmo quando o jogo toma rumos inesperados, tendo em conta que a capacidade de manter um forte estado mental diante da adversidade muitas vezes pode ser o fator decisivo em jogos complicados.
Um plano de treino mental e psicológico foca-se em melhorar os aspectos psicológicos e emocionais do jogador e baseia-se nos seguintes pontos:
1- Definição de metas: definir metas claras específicas, mensuráveis, alcançáveis e relevantes num limite de tempo pré-definido para o desempenho do atleta, tanto a curto, como a longo prazo.
2- Treino de técnicas de visualização: desenvolvimento com os jogadores de sessões de imagens guiadas, onde eles se visualizam executando pancadas perfeitas, estratégias e jogadas bem-sucedidas no campo, incentivando-os a incorporarem todos os sentidos, tornando a visualização o mais vívida possível.
3- Treino do foco e da concentração: prática de exercícios de concentração que ajudem no aprimoramento do foco, como afinar a sua atenção para aspectos específicos do jogo (por exemplo, a bola, os movimentos do oponente) e a bloquear as distrações.
4- Desenvolvimento da atenção plena: treino da meditação da atenção plena para melhorar a consciência do momento presente, crucial para manter o foco durante as jogos, estendendo gradualmente a atenção focada do jogador ao longo das sessões.
5- Autogestão da pressão: simulação da pressão mediante a criação de cenários de prática onde os jogadores enfrentam situações de alta pressão, simulando pontos cruciais de um jogo, tendo como objetivo a manutenção da postura e a tomada de decisões eficaz sob pressão.
6- Controlo do stresse e da ansiedade: prática de técnicas de redução do stresse, que incluem exercícios de respiração profunda, relaxamento muscular progressivo e o discurso interno positivo.
7- Autogestão emocional: consciencialização dos vários tipos de emoções vivenciados nos vários cenários experienciados no campo de ténis, com vista uma maior compreensão do seu impacto no desempenho do atleta; criação de estratégias de “coping” para lidar com a raiva, a frustração e o medo de falhar.
8- Treino de resiliência e força mental: tormenta de ideias sobre formas de desenvolver um maior nível de resiliência e equanimidade, discutindo a importância de aceitar as adversidades e os momentos de menor confiança, tendo como base a análise de jogos anteriores, enfatizando o que se aprendeu com as derrotas e como aplicar esse conhecimento nos próximos encontros.
6- Treino da autoconfiança: criação de uma rotina pré-jogo que fomente o sentimento de confiança do jogador; identificação e listagem dos principais pensamentos parasitas e trabalho de afirmações positivas que inspirem o atleta nos vários momentos do jogo; manutenção de um diário da confiança para registar sucessos, descobertas e momentos de confiança, promovendo a reflexão regular sobre as conquistas e os progressos desenvolvidos.
Por estes motivos, o ténis é um jogo multifacetado que exige a gestão eficaz da energia física, técnica e mental. O jogador que consegue afirmar a sua personalidade e o seu estilo, mantendo o desempenho máximo nessas áreas, ganha vantagem. É uma história cativante de determinação, estratégia e força mental, onde o verdadeiro campeão é muitas vezes aquele que ganha não apenas os pontos, mas o jogo mental que se desenvolve no campo.
Como disse dia Peter Sampras: “Para ser numero 1 e manter o numero 1, no ténis, há três coisas que vais precisar: precisas de um jogo, precisas do coração e precisas do teu mental”.
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